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OPINIÃO: é preciso diálogo para resolver impasse dos médicos cubanos

Deni Zolin

Foto: Foto: José Cruz (Agência Brasil)

Como não deve haver mesmo acordo para manutenção dos 8,3 mil médicos cubanos no Brasil, deveria haver bom senso tanto por parte de Jair Bolsonaro quanto do governo de Cuba para, pelo menos, programar a retirada desses profissionais a médio prazo, e não mandá-los embora da noite para o dia. Um caso como esse não pode ser resolvido de forma intempestiva, como quer Bolsonaro, pois isso vai deixar milhões de brasileiros de cidades pequenas sem médicos, o que é grave. Também é totalmente sem fundamento o fato de Cuba já levar os médicos embora imediatamente, como forma de represália, pois o presidente eleito nem assumiu ainda.

Prefeitos e secretários pedem para manter cubanos no Mais Médicos

Por outro lado, Bolsonaro está certo em cobrar que os médicos recebam o salário integral, pois não faz sentido se pagar 75% dos valores para o governo de Cuba. Ele acerta ao oferecer asilo aos cubanos que queiram ficar - boa parte não vai querer deserdar porque não poderia trazer suas famílias, que estão "presas" em Cuba. A grosso modo, por mês, o Brasil paga R$ 30 milhões mensais em salários aos 8,5 mil médicos cubanos e R$ 60 milhões a Cuba - qual o sentido de passar aproximadamente R$ 720 milhões ao ano ao governo cubano só por ceder médicos?

A contratação de médicos estrangeiros e cubanos resolveu a falta de profissionais nos rincões do Brasil. Por outro lado, se essa verba tivesse sido aplicada lá no início na formação de médicos brasileiros ou na criação de uma carreira federal, hoje poderíamos ter uma solução ao problema da falta de profissionais nas cidadezinhas do país, não precisando fazer esse remendo de pagar para Cuba mandar médicos.

Só na região, conforme a AM-Centro, há pelo menos 27 médicos cubanos atuando, sendo três deles em Santa Maria, conforme a coluna publicou ontem. Se forem embora, a população que ficará desassistida e as prefeituras acabarão pagando a conta.

POR QUE NÃO ABRIR VAGAS DE MEDICINA SÓ PARA JOVENS DE CIDADES PEQUENAS?

A Frente Nacional de Prefeitos critica a retirada brusca dos cubanos, pois vai gerar um grande problema para prefeituras e moradores de cidades pequenas, em que dificilmente haverá interesse de médicos brasileiros de ir trabalhar. Para resolver esse problema, a médio prazo, uma das ideias levantadas seria criar a carreira federal de médicos, em que eles começariam trabalhando em pequenos municípios e, quando fossem promovidos, iriam sendo transferidos para cidades médias e maiores, como ocorre com juízes. Pode ser uma alternativa viável, sim, mas o problema, segundo a Frente Nacional de Prefeitos, é que o médico ficaria só dois anos no interior e depois iria embora, não criando vínculos. Se resolvesse a falta de médicos nos rincões, acredito que a falta de vínculos seria um problema menor.

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Mas quem sabe se o governo criasse um programa de cotas nas faculdades de Medicina das universidades federais que fosse exclusivo para alunos de cidades com menos de 20 mil ou 10 mil habitantes? De preferência, focado em formar médicos clínicos gerais ou de saúde da família. O vestibular teria vagas de Medicina específicas para jovens moradores de determinada cidade ou microrregião, como Toropi, Jari e Quevedos, por exemplo. Seria para alunos de escolas públicas desses locais que já saberiam que, ao passar e se formar em Medicina, teriam de trabalhar em sua cidade natal ou cidade vizinha.

Isso facilitaria a criação de vínculos e a permanência dos médicos no interior, pois daria oportunidade a jovens daquela comunidade de estudar e voltar para suas cidades. Seriam jovens dispostos a ficar no interior, pois suas famílias e amigos são de lá.

Como contrapartida, o profissional teria de ficar pelo menos 5 ou 10 anos trabalhando nessa cidade pequena. Nesse aspecto, seria melhor do que criar uma carreira federal, que acabaria forçando um jovem de Santa Maria ou Porto Alegre, por exemplo, a ir trabalhar em cidades pequenas contra a vontade.

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